A Escuridão como Berço do Sentido da Vida
Imagine um cenário: cercado por arame farpado, entre gritos e fumaça, um homem esfomeado, esgotado e desprovido de sua dignidade humana se pergunta: “Por que continuar vivendo?”.

Essa não é uma cena ficcional; foi a realidade de Viktor Frankl, uma realidade crua que o inspirou na Busca pelo Sentido, psiquiatra austríaco que sobreviveu ao horror dos campos de concentração nazistas. Entre a degradação, a perda absoluta e a brutalidade, Frankl encontrou algo transcendente: a certeza de que, mesmo diante do mais avassalador sofrimento, o ser humano pode — e deve — descobrir sentido.
Essa é uma provocação que ecoa até hoje, especialmente em tempos de hiperconectividade e dispersão de propósito. Afinal, o que a dor revela sobre o sagrado? É o tipo de reflexão urgente quando consideramos o papel da espiritualidade na era digital, cada vez mais diluída em algoritmos e consumo emocional.
No âmbito da cosmovisão cristã, o questionamento de Frankl assume dimensões ainda mais profundas. E se o sentido da vida não for construído por nós? Se não residir em conquistas terrenas, mas na relação com o transcendente? Aqui, começamos a redefinir o horizonte da busca humana.
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O Sentido da Existência: Lições da História
Vivemos em tempos onde a sensação de vazio prevalece. Mesmo cercados por avanços tecnológicos, conforto e opções infinitas, há uma epidemia de doenças ligadas à falta de propósito: depressão, ansiedade crônica e taxas alarmantes de suicídio. Hoje, mais do que nunca, nos encontramos como os prisioneiros de Auschwitz em busca de uma resposta para a questão: De onde vem o sentido?

Olhemos para os grandes momentos de ruptura histórica. O pós-Segunda Guerra foi marcado por uma reconstrução não apenas material, mas existencial.
Sobreviventes como Frankl lançaram-se em uma reflexão que não visava apenas superar o trauma, mas entender por que alguns perderam o propósito diante da dor, enquanto outros o encontraram.
Mas voltemos ainda mais no tempo. Pense na Revolução Francesa e o momento em que os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade pareciam brotar de tempos caóticos e sangrentos. Ou nos movimentos liderados por figuras como Martin Luther King Jr., nascidos da adversidade e do confronto contra a dor. Esses episódios históricos mostram que o sofrimento, quando integrado a uma visão profunda de propósito, pode não apenas destruir, mas transformar, redesenhar o futuro.
Não é por acaso que, mesmo no entretenimento contemporâneo, o sofrimento ganha moldura simbólica. Basta observar como o cinema aborda a espiritualidade, tratando o sagrado como uma lente pela qual o sofrimento se transforma.
E o que dizer do cristianismo, que nasceu da mais singular narrativa de sentido no sofrimento? A cruz não é apenas um símbolo religioso, mas a materialização de um paradoxo: a vida que surge por meio da morte, o propósito redimido pela dor.
Narrativas Literárias e a Busca pelo Transcendente
Em Crime e Castigo, Dostoiévski nos apresenta a agonia de Raskólnikov, cuja tentativa de justificar a perda de seus valores morais o leva a um abismo de culpa e desespero. Apenas quando se entrega à expiação, ele reencontra a centelha do propósito. De forma similar, Frankl, entre os horrores de Auschwitz, descobre que o sentido não é um dado, mas uma conquista diária.
Como discutimos em “O que torna algo sagrado”, é possível que o sentido esteja mais ligado à forma como atribuímos significado a certas experiências do que à experiência em si
Por outro lado, obras como Black Mirror expõem o esvaziamento da existência na era digital. A espiritualidade, quando reduzida à performance ou ao consumo emocional, perde sua força transformadora — o que nos faz pensar sobre a “Nova Adoração” e o vício do consumismo espiritual, que tantas vezes traveste o vazio de plenitude..

NOTA: Original EloXis. Inspirados em: pesquisas da Gallup e Pew Research; vídeo “Incertezas Globais”; Padrões psicológicos de atribuição de sentido em contextos de crise.
Mas a literatura não é feita apenas de abismos sombrios. Por outro lado, Cervantes, em Dom Quixote, cria um contraponto fascinante: o herói insano que rejeita a banalidade da vida mundana para se agarrar a uma nobreza imaginária. Somos convidados a refletir: seria melhor viver sem propósito na realidade ou lutar por ideias elevadas, mesmo que ilusórias?
Essa tensão entre realidade e transcendência se desdobra também em A Montanha Mágica, de Thomas Mann. Lá, o protagonista mergulha em um espaço suspenso entre a vida e a morte — um sanatório nos Alpes — onde a busca pela verdade espiritual se confunde com a fragilidade humana, a efemeridade do tempo e os ecos de uma Europa à beira do colapso.
E como a arte também molda a nossa maneira de sentir e perceber, vale aprofundar essa reflexão no artigo “Os símbolos que moldam nossa percepção”, que aborda a convergência entre história, arte e transcendência.
Sofrimento e o Propósito Eterno
Nos dias atuais, o sofrimento é frequentemente visto como algo a ser eliminado. Remédios, terapias e distrações digitais prometem alívio instantâneo, mas será que estamos fugindo daquilo que mais nos humaniza? O cristianismo, no entanto, inverte essa lógica. Paulo, o apóstolo, escreveu: “Porque, quando sou fraco, aí é que sou forte”.
Frankl afirmava que o homem que tem um “porquê” não teme enfrentar qualquer “como”. Essa visão vai diretamente contra a cultura contemporânea, na qual o bem-estar parece ser a única meta válida. Mas e se o verdadeiro sentido só puder ser revelado no desconforto?
A teologia da cruz insiste em um paradoxo impossível de ser ignorado: é preciso perder-se para encontrar-se, morrer para viver e abraçar a dor para transcendê-la.
Em tempos onde a liberdade é constantemente distorcida, a dor se torna um espaço de revelação. Essa tensão é abordada em “A Ilusão da Liberdade”, onde percebemos que nem todo alívio significa libertação.
Na Bíblia, Jó descobre que o verdadeiro sentido não estava em obter respostas, mas em aprofundar o relacionamento com o Criador. Esse é um convite para repensarmos nosso papel no drama cósmico da criação e redenção.
Tabela Comparativa: Visões de Sentido na Dor
Perspectiva | Encarar a Dor | Onde se Encontra Sentido | Exemplo |
---|---|---|---|
Viktor Frankl | Inevitável, mas redentora | Em valores, vínculos e espiritualidade | Campo de concentração |
Cristianismo | Faz parte da redenção e do propósito | Em Cristo, na esperança da glória | Cruz como símbolo de vida |
Cultura contemporânea | Algo a ser evitado a todo custo | No prazer, produtividade ou status | Estética nas redes sociais |
Narrativas literárias | Motor de transformação interior | Em jornadas simbólicas | Dostoiévski, Thomas Mann |
Nota: Original EloXis. Inspirado em: Viktor Frankl – Em busca de sentido, Timothy Keller – Deus na dor, Teologia bíblica do sofrimento (Romanos 8, 2 Coríntios 4), Correntes existenciais contemporâneas
Rupturas e os Tempos Presentes
Viver no limiar do sofrimento parece ser a norma da contemporaneidade. A pandemia de COVID-19 nos obrigou a repensar o que é essencial. Rotinas desfeitas, perdas reais e rupturas emocionais expuseram nossa fragilidade — e nossa necessidade de sentido.
Como explorado em “Geopolítica das Crenças”, o sofrimento coletivo pode redefinir até mesmo as estruturas globais, pois a fé, muitas vezes, surge como única âncora diante da instabilidade.
Isso também se manifesta em conteúdos simbólicos. A discussão sobre “os heróis modernos” nos mostra que as figuras redentoras ainda habitam nosso imaginário — mas agora, muitas vezes, esvaziadas de transcendência.
Nesse cenário, as extrapolações de Frankl e os princípios cristãos são mais relevantes do que nunca. A dor se torna insuportável quando percebida como vazia. Porém, quando é colocada em um contexto maior, ela não apenas pode ser suportada, mas transformada em força criativa. É exatamente isso que vemos nos movimentos de solidariedade e nas histórias de superação que nasceram dessa crise global. Esses episódios reforçam que o sentido não é encontrado no fim do sofrimento, mas enquanto o atravessamos.
O Chamado Inadiável
Enquanto a cultura nos convida a fugir da dor e cultivar prazeres efêmeros, a cruz nos desafia a confrontar nossas perdas e reconhecer que o sentido não pode ser construído sem um vínculo transcendente.
Há uma luz que só se vê na escuridão, como sugerido no vídeo “No escuro é possível ver luz?”. A espiritualidade, nesse contexto, não é apenas consolo — é caminho.
Se essa busca te incomoda e inspira ao mesmo tempo, o vídeo “Reset Espiritual” pode aprofundar essa provocação com ousadia.
Reflita também com “Além do Altar”, pois o sentido da vida não termina no templo — ele se reflete em cada decisão humana, em cada crise e em cada lágrima.
E se o sofrimento for o que nos resta para lembrar que pertencemos a algo maior? “Incertezas Globais” levanta essa pergunta com firmeza.
Sofrimento com Propósito: Quando a Dor se Transforma em Sentido
Nesse cenário, as reflexões de Frankl e os princípios cristãos ganham ainda mais relevância. A dor, quando vivida sem um porquê, tende a paralisar. Mas quando situada em uma narrativa maior, ela pode revelar novos caminhos — não como castigo, mas como convite à transformação.
Movimentos de solidariedade, reconciliações inesperadas e pequenos gestos que surgem em tempos difíceis apontam para isso: Há beleza, poder e sentido nos detalhes mais discretos da vida, o sentido muitas vezes emerge do cotidiano, não do extraordinário.
A fé cristã sustenta que o sofrimento não é um fim em si, mas pode ser redentor quando atravessado com esperança e entrega. É um movimento De Dentro pra Fora — em que a dor nos impulsiona à maturidade e nos reconecta com aquilo que realmente importa.
Assim, o sentido não surge apenas depois da dor, mas dentro dela — enquanto decidimos seguir caminhando, mesmo sem todas as respostas.
E Se o Sentido Estiver Mais Próximo do que Imaginamos?
Talvez o maior equívoco da modernidade seja imaginar que o sentido da vida está em algum lugar distante, reservado a poucos iluminados ou grandes feitos. Mas, como vimos, ele pode estar nos vínculos restaurados, no olhar que escolhe ver além da dor, na espiritualidade vivida no cotidiano — no partir do pão e no partir do coração.
Se a busca por sentido te provoca, te desconstrói ou te reanima, compartilhe: qual foi o momento mais significativo da sua caminhada até aqui? O que fez você perceber que havia algo maior, mesmo quando tudo parecia pequeno ou confuso?
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🎵 Graça Melody — músicas que são orações cantadas, onde a poesia encontra o sagrado.
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Nos vemos por lá — e aqui, sempre que quiser seguir essa jornada.
“O sofrimento deixa de ser sofrimento no momento em que encontra um significado.”
Viktor Frankl

